crescer

deixei a casa organizada. atravessava pelas alas livremente. sabia onde cada livro estava. andava calma pelo chão de barro — local onde brincava. mas a vida me fazia correr, e por mais que eu não quisesse ir para a casa, eu, em algum momento tive que obedecer. aos poucos, minha casa estava amontoada. os livros, até então, com poucas páginas, ganhavam mais abas — todas rabiscadas. e eu que sempre gostei de anotar — anotei — saberes, vivências e quereres. conjuguei alguns tempos verbais desde tempo em que deixei a rua (para brincar) lá trás. tudo foi ficando intransitável, e por mais que eu quisesse passar incólume por aquela desordem tudo me engolia. sofria pelos rabiscos que do nada se apagavam com o tempo — tanto que não conseguia mais lê-los — com a troca de personagens que chegavam e eu temia que fosse somente uma breve passagem — às vezes era — e por isso ainda temo rupturas. logo, foi quase impossível não me entulhar, e com as prateleiras abarrotadas, transbordei. assim, revirada em mofo, para me organizar, tenho acessado departamentos do passado, pastas de outrora — e também muita coisa do agora. mas o primeiro passo é dar um novo calçado para as estantes, já que no estado em que estavam elas não me sustentavam — ainda estou nelas. por outro lado entendo que apressar a organização pode fazer com que eu esqueça alguma página, então não tenho pressa. daqui a pouco eu conseguirei ver o chão, mas agora não, agora tem muito papel espalhado…

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